História do Partido

PDT – Uma proposta para o Brasil




O PDT foi fundado por Leonel Brizola, no exílio, em Lisboa, em 1979, mas sua herança histórica vem da Revolução de 30, com Getúlio Vargas, e depois João Goulart.


O PDT - Partido Democrático Trabalhista - surgiu em 17 de junho de 1979, em Lisboa, fruto do Encontro dos Trabalhistas no Brasil com os Trabalhistas no Exílio, liderados por Leonel Brizola. Seu objetivo era reavivar o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, criado por Getúlio Vargas e presidido por João Goulart, e proscrito pelo Golpe de 1964. Desse encontro, ao qual esteve presente o líder português Mário Soares, representando a Internacional Socialista, saiu a Carta de Lisboa, que definiu as bases do novo partido. "O novo Trabalhismo" - dizia o documento - "contempla a propriedade privada condicionando seu uso às exigências do bem-estar social. Defende a intervenção do Estado na economia, mas como poder normativo, uma proposta sindical baseada na liberdade e na autonomia sindicais e uma sociedade socialista e democrática.


Uma manobra jurídica, patrocinada pela ditadura, no entanto, conferiu a sigla a um grupo de aventureiros e adesistas, que se aliou às elites dominantes, voltando-se contra os interesses dos trabalhadores. Leonel Brizola, depois de 15 anos de desterro, Doutel de Andrade, Darcy Ribeiro e outros trabalhistas históricos já tinham retornado ao Brasil, quando a Justiça Eleitoral entregou, em 12 de maio de 1980, o PTB àquele grupo, ironicamente encabeçado por Cândida Ivete Vargas Tatsch, uma sobrinha em segundo grau de Getúlio. "Consumou-se o esbulho", denunciou Brizola, chorando e rasgando diante da televisão um papel sobre o qual escrevera aquelas três letras, que durante tanto tempo simbolizara as lutas sociais no Brasil.


"Uma sórdida manobra governamental " - disse ele - "conseguiu usurpar a nossa sigla para entregá-la a um pequeno grupo de subservientes ao poder... O objetivo dessa trama é impedir a formação de um partido popular e converter o PTB em instrumento de engodo para as classes trabalhadoras". Uma semana depois, nos dias 17 e 18 de maio, os trabalhistas autênticos reuniam-se no Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, para o Encontro Nacional dos Trabalhistas, que, contou com a participação de mais de mil pessoas. Lá foi anunciada a adoção de uma nova sigla para o partido - PDT. No dia 25 de maio, outra reunião, na ABI, Associação Brasileira de Imprensa, na Cinelândia, aprovou o programa, o manifesto e os estatutos do Partido Democrático Trabalhista.




O PDT passou então a dar cumprimento ao enunciado da Carta de Lisboa, organizando-se inicialmente em nove Estados, sobretudo a partir do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O autoritarismo, ainda vigente, baixou normas draconianas para favorecer o partido do poder - PDS, antiga Arena, hoje PPB - e restringir brutalmente os partidos de oposição. Não obstante, na primeira eleição democrática de 1982, o PDT elege Brizola governador do Rio de Janeiro, dois senadores - um no Rio e outro em Brasília -, 24 deputados federais, credenciando-se como uma das principais forças políticas do país. Em 1983, antes da posse de Brizola, os pedetistas fazem nova reunião nacional, em que tiram a Carta de Mendes, cidade o interior do Estado do Rio de Janeiro que abrigou o encontro. Neste documento, eles traçam as diretrizes da ação política para a realidade do novo Brasil saído das urnas.


O surto neoliberal que se abateria sobre o mundo, a partir dali, entretanto, retardaria a ascensão do Partido ao poder nacional, que agora assiste de camarote ao desmonte desse sistema cruel e desumano, credenciando-se como a única alternativa popular no Brasil do fim do século. Em 1989, o PDT era escolhido como o único membro da Internacional Socialista no Brasil e seu líder, Leonel Brizola, eleito um dos vice-presidentes daquele organismo, com sede em Londres, que reúne os principais movimentos populares do mundo.




O brizolismo enquanto partido: os 24 anos do PDT




No dia 13 de maio de 1980, no auditório do Hotel Ambassador no Rio de Janeiro, reunido com cerca de 150 partidários, Brizola rasga dramaticamente a sigla que escrevera em uma folha de papel e afirma aos prantos: “Eles destruíram o PTB mas não irão nos calar”.


Ao romperem com o PTB de Ivete Vargas, os brizolistas reafirmavam suas origens na radicalização antiimperialista, democrática e popular do trabalhismo ocorrida na década de 60. Naquele momento histórico a radicalização do nacionalismo democrático do PTB e de suas bandeiras de afirmação nacional - protecionismo à indústria, intervenção estatal, reforma agrária, formação do mercado interno, democracia política e social - apontaram na perspectiva de uma transformação social de caráter estrutural e de orientação socializante que deu origem ao brizolismo.


Brizolismo que estes setores não pensavam em renegar. Afinal, a proposta brizolista de programa e manifesto para a refundação do PTB não foram improvisados por um grupo de políticos e intelectuais. Foi formulada em território brasileiro e despida de soluções importadas, sendo amplamente discutida no Brasil e em vários países onde existiam núcleos significativos de exilados políticos brasileiros. Repudiava àqueles que, como o grupo de Ivete Vargas, viam no resgate da tradição trabalhista uma sigla de fácil curso eleitoral. Apostava na necessidade de criar um partido que expressasse os anseios e fosse dirigido pelo povo trabalhador sendo produto de toda uma reflexão crítica do passado de lutas do povo trabalhador brasileiro e o resultado de uma elaboração democrática.


Assim, no dia 26 de maio de 1980 o brizolismo organiza-se enquanto partido: funda-se o PDT, que partindo da tradição trabalhista, se concebe como partido “que defende a democracia, o nacionalismo e o socialismo, um partido nacional e popular”. Resgatando a “Carta Testamento” do Presidente Getúlio Vargas, que é a mais veemente denúncia histórica da penetração imperialista na nossa economia, o PDT surge com um sentido claro de opção pelos oprimidos e marginalizados.


O PDT foi fundado há 24 anos por brizolistas para ser um dos instrumentos do povo trabalhador para retomar historicamente as lutas nacionalistas e populares pelas Reformas de Base. Apesar de passados mais de trinta anos, o programa levantado na década de 60 pelo brizolismo ainda está na ordem do dia.


Desde a ousadia de abandonar a sigla PTB e criar o PDT, passando pela luta das diretas, pela denúncia do monopólio dos meios de comunicação, pela oposição combativa ao Plano Cruzado e as privatizações de Collor, FHC e Lula, pela eleição dos primeiros governadores negros na história da República, pela intransigente defesa dos negros, dos excluídos e marginalizados em nossos governos e chegando ao questionamento radical do modelo neoliberal de Collor, FHC e que Lula vem dando continuidade, os brizolistas sempre apostaram em políticas que colocaram o PDT no campo dos inimigos principais do sistema.


Assim o brizolismo e sua expressão política: o PDT, herdam as tradições do trabalhismo e seu nacionalismo democrático, mas as modernizam e as superam, propondo claramente o socialismo como meta: o trabalhismo como caminho brasileiro para o socialismo.


Constituindo-se em um partido popular o brizolismo coloca cotidianamente para cada um de seus dirigentes e militantes o desafio de ser regido por princípios democráticos que consolidem uma militância ativa e permanente que atue para que o PDT não se torne mais uma simples sigla eleitoral no mercado eleitoreiro das elites.


Ousar sonhar com uma pátria soberana e socialista !
Ousar lutar como brizolista !
Ousar vencer com o povo trabalhador !
Pátria livre, venceremos !


Cronologia do processo de refundação do Trabalhismo




1979


10 de abril - entrada junto ao TSE pedido de registro da sigla PTB pelos brizolistas
17 de junho - Encontro de Lisboa
06 de setembro - Brizola volta do exílio
21 de dezembro - O PTB brizolista divulga o seu programa


1980


02 de fevereiro - entrada de pedido formal de registro de partido - PTB - no TSE
13 de maio - reúnem-se no hotel Ambassador no centro do Rio 150 militantes que esperam a decisão do TSE sobre o registro do PTB
18 de maio - O brizolismo decide criar o PTD (Partido do Trabalhismo Democrático)


26 de maio - Fundação do PDT


setembro - registro provisório do PDT


1981


12-13 de julho - Convenção do PDT; Brizola, presidente
novembro - registro definitivo do PDT